terça-feira, 25 de abril de 2017

LEIS, BÍBLIA, PAIS, FILHOS & BALEIA AZUL

Estamos perplexos com esse jogo maldito chamado baleia azul.
Não pretendo fazer propaganda das etapas, apenas uma breve reflexão, especialmente com os pais. Pastor, vai culpar os pais? Calma! Gosto de sempre iniciar pela exceção! Todos sabemos que muitos pais dedicam o melhor exemplo aos filhos e mesmo assim alguns filhos seguem caminhos tortuosos.
Vejamos o exemplo de Abel e Caim (Gênesis 4:2). Adão e Eva deram o mesmo ensino aos dois filhos, mas enquanto Abel era justo, Caim chegou ao ponto de tirar a vida do próprio irmão por pura inveja. E tiveram o mesmo ensino e exemplo! Pois bem, tratada a exceção, vamos a regra.
A expressão latina "tabula rasa" que significa literalmente "tábua raspada", e tem o sentido de "folha de papel em branco", refere-se às tábuas cobertas com fina camada de cera, usadas na antiga Roma, para escrever. Posteriormente a escrita podia ser apagada, de modo que se pudesse escrever de novo sobre a tabula rasa, isto é, sobre a tábua raspada ou apagada. Como metáfora, o conceito de tabula rasa foi utilizado por Aristóteles (em oposição a Platão) e já na modernidade, o termo foi amplamente difundido pelo filósofo inglês John Locke, considerado o grande protagonista do empirismo. Locke detalhou a tese da tabula rasa em seu livro, Ensaio acerca do Entendimento Humano (1690). Para ele, todas as pessoas nascem sem conhecimento algum (a mente é, inicialmente, como uma "folha em branco"), e todo o processo do conhecer, do saber e do agir é aprendido através da experiência.
Mesmo citando John Locke, empirista, o objetivo aqui não é analisarmos modelos de ensino, portanto, esse breve artigo não se propõe a confrontar empirismo com inatismo ou construtivismo. A referência a Locke é apenas para demonstrar que se a carga genética determina a personalidade, a convivência molda o caráter, ao passo que na convivência exortamos e edificamos uns aos outros (1 Ts 5;11), ao ponto de relações só serem duradouras se realmente houver acordo (Am 3:3).
Ou seja, nós escrevemos, ato após ato, palavra por palavra, dia após dia, com a caneta do exemplo, nas tábuas do caráter dos nossos filhos! Forte né?
Dito isso, a pergunta que não quer calar é: Como pode um adolescente passar quase dois meses envolvido em algo destrutivo, acordado noites inteiras, sem falar com a família, assistindo filmes de terror, se auto-mutilando e mesmo noticiando nas redes sociais seus sintomas, os pais não notarem nada?
Alguém pode dizer: Pastor, eu notei os sintomas mas não sei o que fazer. Bem, então voltamos a exceção. Você é um pai ou uma mãe diligente, mas por razões circunstanciais seu filho envolveu-se com coisas ruins e juntos precisamos traze-lo de volta para o caráter de Abel. Todos já ouvimos a máxima: "Acontece nas melhores famílias". E então, o que fazer?
Primeiro, já concluímos que só bom exemplo e mesmo o melhor ensino e a melhor família as vezes não são suficientes (Lembre-se de Caim que matou o irmão).
Então o que é suficiente?
Em última instância, quem pode tratar o caráter do ser humano é Jesus Cristo, o nosso exemplo perfeito. Ele disse: "Porque eu vos dei o exemplo, para que, como eu vos fiz, façais vós também" (Jo 13:15). Mas para tanto, o ser humano precisa querer. O livre arbítrio que Deus nos deu, nos faz livres e nos legitima a decidirmos o que queremos. Veja o que a bíblia diz sobre liberdade: "Irmãos, vocês foram chamados para a liberdade. Mas não usem a liberdade para dar ocasião à vontade da carne; ao contrário, sirvam uns aos outros mediante o amor" (Gl 5:13). Abel usou a liberdade para buscar a Deus, tornou-se justo e desenvolveu um coração puro. Essa era a oração do salmista: "Cria em mim um coração puro, ó Deus, e renova dentro de mim um espírito estável (Sl 51:10). Caim por sua vez escolheu alimentar a inveja.
Nesse ponto alguém pode dizer: Mas pastor, quem está se envolvendo com esse jogo infernal são adolescentes que não estão plenamente aptos a exercerem o livre arbítrio. Isso é verdade! Por isso os pais não podem ser negligentes! Como pais, somos responsáveis não apenas diante de Deus mas também diante das leis.
Vejamos o que diz a Constituição Federal Brasileira: "Os pais têm o dever de assistir, criar e educar os filhos menores [...] (Art. 229).
Na mesma direção vai o Código Civil: "Compete a ambos os pais, qualquer que seja a sua situação conjugal, o pleno exercício do poder familiar, que consiste em, quanto aos filhos:
I - dirigir-lhes a criação e a educação" (Art. 1.634).
No plano internacional, a Convenção Americana sobre direitos humanos, assinada na conferência especializada interamericana sobre direitos humanos, em San José, Costa Rica, em 22 de novembro de 1969, no seu artigo 12.4, ao tratar de liberdade de consciência e de religião, afirma expressamente que, “os pais, e quando for o caso os tutores, têm direito a que seus filhos ou pupilos recebam a educação religiosa e moral que esteja acorde com suas próprias convicções”, sendo que o Supremo Tribunal Federal reconhece a eficácia jurídica desta norma no Brasil.
Veja, a lei impõe aos pais o dever de ajudar os filhos a moldarem um caráter reto e auto protetivo. Os filhos devem ser ensinados a exercerem o seu livre arbítrio direcionado para os valores da verdade, justiça, amor próprio, amor ao próximo, amor a Deus, defesa da vida, respeito ao meio ambiente, etc.
Interessante que antes de todas essas leis, a bíblia nos diz que os filhos são herança do Senhor e ordena: "Ensina a criança no Caminho em que deve andar, e mesmo quando for idoso não se desviará dele" (Pv 22:6).
Diante de tudo, o que podemos fazer para exercer essa obrigação legal e bíblica e influenciar nossos filhos a desenvolverem um caráter cristão?
Finalizemos respondendo apenas mais duas perguntas:
Primeira: O ambiente de nossa casa reveste-se do sacro ou do profano? Cuidado com quem você convida para estar em sua casa e com os locais que você frequenta com sua família. Seus filhos precisam ser alimentados com a palavra de Deus e não com exemplos profanos. Assim como as boas, as más companhias vão influenciar o caráter dos nossos filhos, e até mesmo o nosso (1 Co 15:33).
Segunda: Nossa casa é apenas um abrigo material ou é um Lar? Para ser um Lar, toda a convivência precisa ser norteada por pelo menos dois princípios: amor e ordem:
A essência da vida cristã é o amor. Quem não ama não conhece a Deus, por que Deus é amor (1 Jo 4:8). Se antagonizarmos expressões como frio e calor, grande e pequeno, pobre e rico, chegamos a conclusão de que o antônimo de amor é ódio, certo? Sim, em partes. O contrário de amor também é falta de cuidado! Quem ama cuida. E não é necessário odiar para negligenciar o cuidado, mas ainda assim a falta de cuidado é falta de amor. Cuide de quem você ama!
Quanto ao princípio da ordem: Tudo no reino de Deus é organizado. Deus criou o mundo em uma ordem lógica e cronológica (Gn 1). Nossa casa precisa ter ordem. Horários. Regras! Impor limites para manter o lar em ordem jamais será falta de amor, quem ama corrige (Pv 13:24).
Aonde os adolescentes tem se encontrado com a maldita baleia azul? Na internet. Enquanto navegam sem limites muitos naufragam! De atenção especial as mídias sociais, televisão e internet como um todo. Você sabe com quem seu filho(a) fala no watts? Quem são seus amigos no facebook? Que tipo de filmes ele assiste? Não esqueça: Quem ama cuida (1 Co 13). Talvez alguém diga: Mas eu não posso olhar o celular do meu filho! Ah! Quer dizer que ele pode comer da sua comida, vestir-se com as roupas que você compra, morar na sua casa, mas não pode mostrar o celular que possivelmente também foi você quem pagou?
Ordem! É preciso estar claro quem é quem. Quem é provedor e quem é dependente. Quem é pai e quem é filho. Resumindo, é preciso deixar claro quem manda em quem (Ef 6:1-4, Cl 3:20)! Mas autoridade é diferente de medo. Você precisa ser um líder e não um chefe da sua família. Autoridade não é conquistada com gritos, e sim com o seu exemplo! As palavras convencem, mas o exemplo arrasta. Como pais cristãos devemos nos perguntar (e responder) diariamente: Que história estou escrevendo na "tabula rasa" do caráter dos meus filhos?
A missão é árdua, precisamos buscar ajuda divina. Te convido a iniciar com essa oração: "Ajuda-nos, ó Deus, nosso Salvador, para a glória do teu nome; livra-nos e perdoa os nossos pecados, por amor do teu nome" (Sl 79:9).
Por fim, lhe apresento um método muito melhor que o empirismo de Locke ou construtivismo de Piaget, o método bíblico:
"Fala com sabedoria e ensina com amor". (Pv 31:26).
Daniel Fich de Almeida
Advogado
Coordenador do Conselho Jovem COMADPLAN (Conselho da Mocidade Assembleiana no Planalto Médio do RS)
Membro da ANAJURE (Associação Nacional dos Juristas Evangélicos)
Pastor presidente da Igreja Assembleia de Deus em Ibiaçá/RS